Meu Corpo Brasil

Eis que cheguei à estranha Conclusão de que o meu Corpo somatizou o Brasil.

É certo que tenho uma idade avançada, portanto sou portadora dos seus efeitos previsíveis, contudo, como o cérebro é quem comanda as emoções, nos últimos tempos nacionalmente tão difíceis fui, pouco a pouco, apresentando novos problemas e piorando outros habitantes já instalados neste corpito que vos fala.

O curioso surpreendente é que percebo que ele, o corpito, parece ter paralelizado as maleitas do nosso combalido paísão.

Vejam só: houve uma eleição significativa das dores e problemas — mais estruturais ou mais pontuais — pelo lado esquerdo do meu corpo. Exatamente onde o Brasil está capenga, à esquerda...

Frequentemente tenho dores na cabeça, no ombro e no quadril — todas do lado esquerdo. Dia destes caí e torci o pé — o esquerdo, que parece ter ficado cronicamente dolorido. Até quando me surgiram, agora recentemente, dores na garganta e no ouvido, ali estavam elas: do lado esquerdo.

Como sou professora, não resisto neste momento a uma tabela elucidativa de tal comparalelismo:


O LADO ESQUERDO DO MEU CORPO

A ESQUERDA
NO BRASIL ATUAL

Dor de cabeça

Falta Projeto / Objetivos

Dor na garganta

Falta Voz / Articulação

Dor no ouvido

Falta Escuta do povo

Dor no ombro

Falta Direção

Dor no quadril

Falta Assento
/ Novos Fundamentos

Dor no pé

Falta Movimento / Ação


Deixarei, quem sabe (nem eu...), para próximas crônicas o desenvolvimento de tais capenguices da esquerda brasileira...

Mas calma, meus Amigos, que não acabou. O mais surpreendente desta teoria somatizatória talvez esteja reservado para este final. Podem acreditar: lembrei-me agora mesmo que tenho um tumorzito de cerca de 1 centímetro no crânio — mas este do lado direito... mais precisamente na parte extrema direita do meu crânio! Ora, digam lá se a coincidência não é gritante com a localização do tumor do Brasil justo à extrema direita.

A diferença está em que, ao contrário do meu benigno e estacionado Schwanoma (o nome do tumorzito), o nazifascismo do Bolsowanoma e seus fardados comparsas batedores de continência, além dos batedores de carteira tão e tão negados e agora escancarados, é um comprovado tumor maligno dos piores, e não para de crescer.

À esquerda brasileira desunida, desarticulada, em suma, como eu, ferrada da cabeça ao pé, resta-lhe a esperança de que, invertendo-se a situação, possa o Brasil, por sua vez, me somatizar um pouquinho. Estão a ver aonde quero chegar?

Pois é, que esse tumor maligno instalado à extrema direita do Brasil também, como o meu, estacione e possa tornar-se inofensivo em 2022, com a reabilitação da ala esquerda (e, num círculo simbiótico sem fim, que tal reabilitação também se venha, enfim, a espelhar neste meu Corpo que aqui termina este pitoresco delírio).


Comentários

  1. Cabe lembrar o cruzamento neurológico: o lado direito do cérebro comanda o lado esquerdo do corpo, e vice versa. A analogia pode ser perfeita se o "comandante" tem um tumor: minúsculo, mas se ativo, perturba a esquerda. Guerra fria. Adorei a frase bem portuguesa: "Estão a ver...." Vulnerabilidade de todo lado.... rsrsrsrs

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    1. Adorei o seu comentário...espirituoso e oportuno. ..me diga seu nome.

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  2. Perfeita a crítica anatômica à esquerda! Escuta do povo, articulação, novos fundamentos para um novo mundo... E, endossando o comentário acima, uma direita saudável, sem tumores, também é necessária para que esse corpo funcione bem à esquerda. Precisamos urgentemente de debate político, confronto de projetos focados na educação, na cultura, na saúde, na ciência, na reforma fiscal. Como foi que o Brasil entrou nessa luta estéril do bem e do mal, nesse falso-moralismo manipulador? O terreno já era fértil para o crescimento velado do tumor e ninguém viu a tempo. Enfim, que crônica criativa.

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    1. Como sempre, seus comentários são inteligentes, fundamentados e neste caso, perfeitamente pertinentes. Obrigada pelo "criativa".

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  3. Nosso país encontra-se hoje neste estado lamentável de desequilíbrio, dores e mazelas as mais diversas, graças, única e exclusivamente, à autora desta crônica. Se há muitos anos tivesse persistido no tratamento recomendado aos seus pés, hoje teria uma base sólida, compatível com seu tamanho, o que lhe teria garantido uma vida saudável e sem dores. E seguindo a tabela " comparalelizante", nós, brasileiros, hoje teríamos voz, direção, ação.Talvez o futuro previsto (sonhado) por Stefan Zweig já tivesse até chegado.Percebeu a magnitude de sua responsabilidade, d.Rose Serra? Mas ainda há tempo de consertar as coisas. Corre lá (melhor ir andando mesmo, p não tropeçar e sobrar p nós) e faz o q devia ter feito, antes q o tumor nazifascista cresça mais. Tomara q a terapeuta ainda exista.

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