O (meu) Tratado do Amor - 1ª parte

Em duas semanas vou lhes falar sobre o meu Tratado do Amor, em suas seis Fases. 


~ 1ª FASE ~

QUANDO SE INSTALA A PAIXÃO

É a porta de entrada do Amor, o estado mais enlouquecido. A gente se apaixona quando contrai esse vírus, que mora nos mares bravios, nos campos floridos e viaja nos braços afobados dos ventos e, vez por outra, visita o centro da terra, se instalando em seres desprevenidos.

Na paixão não há lógica nem censura. Tudo é azul e vermelho. Viramos seres azuis, cobertos de nuvens. Já notaram como os apaixonados sentem mais frio? Pudera! Enrolados em nuvens... Também viramos seres vermelhos, corações sagrando alvoroçados, almas desnudas. Ah! Os corpos, esses coitados, trêmulos, em brasa, mãos geladas, pernas bambas, sempre embriagados. De fato, nos transformamos em mendigos, esfomeados de carne humana, os próprios canibais desesperados.

A gente só enxerga o ser amado, aquela pessoa que não tem defeito, que não tem porém. Se for bonito, vira lindo. Se for mais ou menos, o que importa é o mais. Se for feio, pra nós é bonito.

Dizem que a paixão não pode ficar mais do que um, dois anos, é o limite desse estado pra qualquer humano não enlouquecer de vez. Depois desse tempo, ou ela se esvai como fumaça ou se transforma no que chamamos de Amor.

Contra a paixão não há antídoto. Mas, cá pra nós, a paixão é fundamental, quantas vezes ela nos visite, é maravilhoso vivê-la tal como se apresenta. É viver ou viver.



~ 2ª FASE ~

QUANDO O AMOR ACONTECE

O amor, ah! o amor é um presente dos deuses, é um estado de graça. É o oposto da sofreguidão anterior. Mas não quer dizer que nele não haja paixão. A diferença é que a paixão muda de status, de um estado enlouquecido vira um tempero apimentado. Nada se iguala à vivência de um amor companheiro, solidário, em que o principal não é olhar um pro outro, mas na mesma direção. Nos valores, no modo de habitar este planeta, nos sonhos fundamentais.

Existe coisa melhor do que o aconchego na hora de dormir? E as conversas gostosas, com “risadas nos papos da madrugada”. Olhem, meus amigos, o humor a dois é fundamental. Pra aguentar esta vida, não tem melhor remédio.

Existe bem maior do que a segurança de que não se está só, que se tem alguém com quem pode contar nas escaladas da vida? A cumplicidade, o café e a conversa na mesa da cozinha, o cinema nas tardes de domingo, o encontro com os amigos, as viagens juntos, os embates de opinião, até as brigas, e melhor ainda é quando fazemos as pazes.

Penso que no amor cabe tudo, mesmo as nossas demandas mais absurdas, e até uma certa pieguice, afinal ele é multifacetado, com a grandeza e os limites dos sentimentos duradouros. 

Se você tem um amor assim, cuide, agradeça, reze sempre mesmo se não tiver nenhuma fé, porque você é uma pessoa privilegiada, abençoada pela vida vivida e pela vida que virá, porque está cada vez mais difícil encontrar essa joia rara. Porque se perder tempo, a qualquer momento, o vírus da paixão pode ser contraído por um dos dois e aí o amor vai pro espaço.

 E o resto é abstracionismo...



~ 3ª FASE ~

QUANDO O AMOR ENFRAQUECE

Como tudo que é muito bom, aos poucos vai ficando bom, depois mais ou menos e pode ficar ruim.

Aquele amor da 2ª fase começa a dar sinais de que já não é mais o mesmo. Pequenos sinais que se fazem presentes aos poucos, espaçadamente de início, depois mais freqüentes, anunciando que nem tudo é mais azul e o vermelho não é mais tão presente. A chamada crise vai se instalando, lenta e inexoravelmente, como pequeninas doses de um antídoto à felicidade, fruto de muitas determinações como diriam os marxistas.

É o papo da cama que diminui, são as risadas da madrugada que ficaram escassas, a cama que de quente vira morna (embora pode continuar quente e, por isso, confunde), começa a se instalar o silêncio, esse grande inimigo, se impondo a crise, como senhora da despedida.

O que geralmente ocorre é que esses pequenos sinais, de inicio, não são percebidos, às vezes, não queremos identificá-los, seja por medo, seja por vaidade ou até por distração. A verdade mesmo é que não há crise que não se anuncie.

É aqui que o perigo habita porque, de fato, é a hora de se fazer alguma coisa que possa ainda reverter a situação. Quase sempre, espera-se o pior pra fazer alguma coisa. Não podemos ignorar os sinais da vida, em relação a tudo, principalmente ao amor. “É preciso estar atento e forte”... como já disse o poeta. Mas a nossa cultura não é preventiva, só se põe a tranca na porta depois que ela foi arrombada. Fazer o quê?

Por que o amor enfraquece? São muitas razões. Penso que a principal é a monotonia do dia a dia, esquecemos de regá-lo com novidades, com pequenos cuidados, com surpresas ocasionais, tipo umas flores, uma viagem, um motel, um jantar à luz de velas, passar uma semana sem reclamar de nada, não falar dos defeitos do ser amado, destacar suas qualidades, se interessar por detalhes de seu trabalho, enfim, coisas assim.

No entanto, meus caros, se essa situação já estiver instalada, nunca é tarde. Lutemos para que esse amor não vá embora.


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Comentários

  1. Estou gostando muito. Ansiosa pelos próximos capítulos desse delicioso e sempre surpreendente déjà vu.

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