As Panelas voltaram para os Fogões?

Tentei, de todas as maneiras, começar a escrever sobre isto e quase desisti, por perceber que, de nenhuma maneira, conseguiria trazer-lhes algum alento.

Vou direto ao ponto: é possível a expulsão desse vírus do Mal da cadeira verde-amarela do planalto central?

Falando sério, teria de me esforçar bastante para opinar que sim. Eu diria até que pode haver uma reviravolta nas perspectivas — mas o faria com uma convicção um tanto capenga. Então aqui vai.

Analistas de órgãos de imprensa, de instituições da sociedade civil, políticos de várias cores e entonações, jornalistas e pessoas credenciadas em geral, nas suas abordagens sobre os impasses que vivenciamos no enfrentamento desse governo neofascista — ou nazifascista, como eu prefiro chamá-lo — apontam, principalmente, três possíveis caminhos para afastar o despresidente Bolsonaro, a conferir:

O primeiro seria a Renúncia do Presidente, forçada por um acordo de bastidores com vista a evitar a prisão de seus rebentos malfeitores. Isto caso vão avante os processos judiciais que envolvem os zeros Flávio e Carlos desse papailhão, incitados com a demissão do Diretor Geral da Polícia Federal e com o pedido de demissão do Ministro da Justiça e da Segurança Sérgio Moro, que acusa o Presidente de tentar garantir a sua interferência na PF.

O segundo caminho, o Impeachment, já teria motivos de sobra para ser trilhado, em razão dos sucessivos e públicos crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro, com a complacência escancarada dos diferentes poderes da República, desde a sua assunção à caneta presidencial para escrevinhar os destinos da nossa combalida pátria desalmada Brasil.

A terceira perspectiva teria como foco a Anulação das Eleições Presidenciais de 2018, face às denúncias, sob investigação, comprometedoras da fidedignidade dos seus resultados. Vislumbra-se, neste sentido, um (im)pulso forte nas investigações com a recente chegada do Ministro Luís Barroso à presidência do Supremo Tribunal Eleitoral, em razão do perfil desse ministro, que inspira maior confiança tendo em conta a sua atuação no STF.

Pois bem, meus amigos, estas são, ou seriam, também a meu juízo, as possibilidades. Mas, numa visão realista e — por que não dizer — pessimista, penso ser muito difícil a ocorrência de uma de tais saídas para o imbróglio nacional. Lamento que esta seja a visão desta escrevinhadora. Desde já peço desculpas se lhes decepciono e torço muito para que eu esteja totalmente equivocada, para o bem do povo e felicidade geral da nação.

Antes, ressalto que, até início de março deste 2020, eu ainda não teria assumido tal vestimenta, nada simpática para os que proclamam sempre a visão do tudo se resolve ou do tudo vai der certo, os chamados otimistas ou entusiastas das vãs esperanças. E quem sabe até eu estivesse mais esperançosa não fossem duas ocorrências terem sentado praça em nosso país.

A primeira é uma Tragédia mundial, já que nossos humanos narizes, bocas e peles estão à mercê das gosmas assassinas desse covarde inimigo, o tal invisível Covid-19, parido do ventre criminoso de sua progenitora Coronavírus.

Pois bem, amigos! Um dos meus argumentos para o gramsciano “pessimismo da razão” ampara-se na sábia afirmação do saudoso grande político Ulisses Guimarães, que dizia: “A única coisa que dá medo aos políticos é o povo na rua.”

Ora, com o coração apertado, pergunto: na conjuntura atual, como irá o povo para as ruas se está aprisionado nos seus lares na justa defesa de sua vida? E ainda que, porventura, houvesse tentativas, seriam legitimamente impedidas pelo aparato policial em nome desse valor maior. Como substituir, portanto, a força das multidões que encheram as ruas, praças e avenidas de muitas cidades em muitos feitos memoráveis de nossa História? — inclusive já contra este Desgoverno, em 15 de maio de 2019, nas manifestações em defesa da Educação, base crucial de qualquer parca esperança para este maltratado e manipulável Povo Brasileiro. Nem preciso nominar tais feitos porque estão inscritos em nossa memória e habitam em nossos corações...

A segunda ocorrência tem a ver com a antiga Relação prostituída entre dois Senhores — governos e partidos, principalmente os integrantes do chamado Centrão, esses que advogam que não são nem de direita nem de esquerda, mas nós, os habitantes desse Paísão Continental os identificamos, sim, em grande parte, como larápios institucionalizados no ventre dos poderes centrais, estaduais e municipais, disfarçados em gestores de verbas milionárias em cargos de órgãos no famoso Toma-Lá-Dá-Cá, traduzido pelo queremos acesso a milhões e milhões e nós daremos os votos que vocês, Governos, precisarem.

A Câmara dos Deputados, hoje, face ao perfil partidário majoritário de seus integrantes, é uma instância que não atende às demandas dos direitos individuais e sociais conquistados pela população — vide as recentes reformas trabalhista e da previdência. Por exemplo, os mais de vinte pedidos individuais de Impeachment que habitam na Câmara, instância legal para a recepção e abertura deste processo, amortecem engavetados pela costumeira traição do seu presidente Rodrigo Maia, deputado do DEM, partido líder do tal Centrão. Inclusive, em resposta ao STF, ele já se pronunciou que não tem prazo para examinar tais pedidos, atendendo ao acordão entre o Centrão e o governo Bolsonaro, relativo à já vigente entrega de cargos em órgãos com orçamentos de bilhões de reais, ficando assim garantida a moeda de troca, o Não na votação pelo Impeachment.

Por fim, reparem como o bate bum de panelas nas janelas, única manifestação coletiva que, em tempos de pandemia, tentou o ar de sua graça, entrou em processo de lenta agonia, talvez pelo cansaço e desesperança que tomam conta de nossas mentes e corações, assustados com a fundura do Buracão em que estamos caindo na escuridão deste Pandemônio Nacional.

Ficam as perguntas no Grito:

As Panelas voltaram para os Fogões? As Bocas continuarão bebendo desse Cale-se?


Comentários

  1. Primeiramente, sua forma de agarrar o humor mesmo nas superfícies mais áridas e o inusitado da linguagem escolhida são uma lufada de brisa em meio à canícula nazifascista - muito obrigada por nos presentear com sua assinatura irreverente e sempre tão lúcida. Infelizmente, compartilho da sua carência de esperança nas instituições e no próprio povo não sustentado por uma educação pública decente, e acho mesmo que podemos ser surpreendidos (?) a qualquer momento com horrores ainda maiores. :( Mas o olhar poético, a arte, o amor e a solidariedade ainda podem salvar momentos, tornar-nos mais fortes para aguentar o bombardeio.

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  2. Excelente crônica, com toda a sua lucidez realista-pessimista, mas com muita coerência e leitura certa da nossa realidade, infelizmente!
    Concordo com a sua avaliação das panelas, mas pra elas a vida também não está fácil, fogão

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  3. As panelas só estão se esquentando p voltar à janela, q é o lugar delas.

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