Estou sendo coagida a falar de um assunto chato. Mas, como fui
obrigada a isso, vou clarear a minha afirmação que dá título a este texto. A
Chatice é uma necessidade social desde logo porque, se todo mundo fosse risonho,
expressando apenas alegria, simpatia, bom-dia para o mundo... isso acabaria
sendo banal, ou seja, uma chatice. Mas, principalmente, quantas vezes não se é
sincero para não desagradar o outro? É a chamada Puxa-saquice, a antítese da
Chatice... Temperar nossos dias e relações com alguma Chatice é absolutamente
necessário para contribuir para um mundo melhor. Passo a explicar.
A Chatice pode impulsionar a transformação pessoal e,
consequentemente, a realidade social. Vejamos um exemplo dos mais simples. Quando
a gente diz para um amigo para cuidar melhor de seus cabelos — porque percebeu que ele os está lavando diariamente,
ou quase isso, e poderá ficar meio careca, já que lavar demais enfraquece a
produção de cabelo pelo couro cabeludo — , tal amigo ficará com raiva e pensará
consigo mesmo: que pessoa chata, tinha que me dizer isso? Mas, depois, sozinho,
ao refletir a respeito, existe uma chance de que passe efetivamente a cuidar
melhor dos seus cabelos não os lavando tantas vezes na semana e, quem sabe,
venha até a aconselhar outro amigo que esteja caindo no mesmo erro, e assim por
diante.
Ora, isto parece não ter relevância alguma além de um
possível embelezamento social, mas percebam que o mesmo processo ocorre em
situações mais complexas. Quando A fica continuamente insistindo com B que é
necessário reagir com ações a um estado social que o desagrada ou o ameaça — por exemplo, o atual governo nazifascista do Bolsovírus — , o ouvinte naturalmente
ficará, num primeiro momento, irritado com a insistência. Em determinado
momento, no entanto, B poderá começar a refletir a respeito e, como reação, até
para se livrar de tal “chatice”, passará a empreender pequenas atitudes, nem
que seja abrir a janela e gritar: Fora Bolsonaro! Pois é aqui que quero chegar.
Ao ser ouvido por vizinhos, é possível que alguns deles se sintam contagiados a
acompanhar o gesto, e assim sucessivamente, podendo chegar a provocar um
movimento coletivo, portanto, social. E tudo a partir de uma inquietação gerada
pela chatice de A.
O chato, assim como o pessimista, não acredita que as
situações se resolverão por si mesmas, logo é bem provável que procure, mais
frequentemente, interferir no sentido de melhorar o mundo, mesmo que a partir
de um âmbito mais particular.
E, como viram desde a primeira frase, eu também só vim aqui
discorrer sobre a Chatice a partir da chatice alheia — a de alguém que eu
chateei a respeito da lavagem excessiva de cabelos e que, por sua vez, tendo
enfim compreendido a importância do meu ato, me chateou para que eu escrevesse
sobre esta teoria, contribuindo, assim, para que você, leitor deste texto, reflita
agora sobre a chatice a partir de um outro ângulo e pense duas vezes antes de
voltar a maldizer os chatos da sociedade. Tenho dito.
genial :)
ResponderExcluirVindo de você é um elogio.
Excluirfalou com total domínio da chatice, rsrsrs...parabéns!
ResponderExcluirVocê fala com a competência de nosso companheirismo de 25 anos. Beijos
ExcluirChatice é mesmo chato!Muito boa e inteligente a crítica de sua chatice. kkk
ResponderExcluiresqueci de mandar o abraço virtual,
ExcluirFafá
Que bom que você gostou, Fafá! Penso que você gosta um pouco da minha chatice...rsrs
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